quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Mar

Ó bravio mar solto,
revolto às procelas do meu rosto,
encorberto ao som do exato golpe nas pedras.
Águas de imenso mistério profundo,
do mais nítido azul-esverdeado,
escuro, nítido, breve, tardio.
Singular eternidade que se perde no horizonte:
A Vida de Deus.
Pequenino ser humano sou eu,
na lonjura dos lábios Supremos dos céus,
com os olhos finos ardentes dum choro manso.
É mesmo esta distância da grandeza do Grande Ser,
distância ao qual remonto minhas mãos com um espanto,
e digo sorrindo sobre nossa desprezível força diante do Mar Bravio, Eterno, Belo.

domingo, 14 de novembro de 2010

Começo do Inverno

Então me dei conta que finalmente era este o inverno premente a se instalar. Nem o céu turvo de nuvens densas deixou passar a evidência de que novembro era um passo para dezembro. Sentei-me com os pés na mesa, olhos baixos. Calei-me de vez com um conhaque ingerido na garganta de alguém que não sabe bebê-lo.
- Dezembro ainda vai chegar. Mês de ilusões amontoadas de paixões dilacerantes! Minhas grandes inspirações. Está começando a minha doença. Que não dure tanto tempo.

Amor Mais Que Discreto (Ilusão à Toa)

Porque estas letras são muito lindas.

(...)E isso é tanto que pinta no meu canto
Mas pode dispensar a fantasia
O sonho em branco e preto
Amor mais que discreto
Que é já uma alegria
Até mesmo sem ter o seu passado, seu tempo
O seu agora, seu antes, seu depois.
Sem ser remotamente
Se quer imaginado
Se quer...

Caetano Veloso

domingo, 7 de novembro de 2010

Flor,
doce flor,
acorde para o ar afável que te abriga.

É amanhã mesmo que as folhas desagradáveis passarão,
porque as pétalas desabrochadas de suas mãos são finos tecidos presos.
Quando soltos, abrigam a calmaria das ondas no auge.

Flor,
doce flor,
acorde para o ar afável que te abriga.

Acorde para o mesmo ar estável de um sorriso,
breve, belo, conciso.
Os cilios são os mesmos, as pétalas distorcidas e a pequena figura antiga.

Ah, não esqueça de amanhã fluir no teu perfume,
atirando-o no jardim dos outros o mesmo encanto,
a mesma voz amável abrandável.

sábado, 6 de novembro de 2010

Forrest Gump


"Eu não sei se cada um de nós tem um destino, ou se estamos flutuando acidentalmente pela brisa. Pode ser os dois". Forrest Gump

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Deixe-me quieta num canto,
chega de tantos assuntos que envolvam as artes.
Tem crianças morrendo enquanto discute-se,
enquanto discute-se o próximo foguete que tocará os céus de Deus.
Deixe-me quieta num canto,
porque eu preciso entender o modo como se amortalham tão rápido.
Eu preciso entender o porquê destes atos.
Mas o que diabos escrevo eu?
O que falo com tudo isso?
Eu não sei, sinceramente. Não gosto de ficar calada. Sou calada.
Mas eu não entendo o canto rude destas vozes,
quando tem crianças morrendo.
Vá à merda! Façamos o que as nossas mãos está à vista.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Uma Flor


Se eu pudesse dizer-te uma palavra que brotasse uma flor, eu diria.
Mas coração machucado quanto nosso é somente o nosso
E tu sabes bem o que ele significa
Eu não sei falar muita coisa não
Mas se eu pudesse dizer-te uma palavra que brotasse uma flor, eu diria.
Mas sou muda, com olhos que te cuidam.
Eu não sei falar muitas coisas
Mas se eu pudesse dizer-te alguma palavra que brotasse uma flor, eu diria.
Para que um sorriso abrandasse a noite que dói no infinito

-Amar dói?
-Acho que sim. Mas já estou ficando dormente. Isto é um bom sinal. Não chore mais, não estás na solidão. Estou aqui. Eu te amo, ora!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Onde Estará a Poesia, Meu Amigo?


Onde estará a poesia, meu amigo?
Bebida do cálice etéreo divino
Onde estará?
E esta mancha, complexa,
que mutila as horas,
o ser.

Onde estará a poesia, meu amigo?
Bebida do cálice etéreo divino
O formidável consentimento,
ou as estrelas apagando-se por enfermo.
A arma apontada no rosto sã de um ser primata
Por onde andará ela?

Vê-se passar o tempo e a loucura,
e a ternura escondida no escuro.
Não escuto o ar abrandar-me a desordem,
de um passo curto tímido e amedrontador.
Contrarie a ação dos homens que doem,
deixando claro um soluço disperso, que nunca cura.

Onde andará a poesia, meu amigo?
Quando o amanhã abastece-se de um fato cúmplice de outrora
Quando os passos dados são profundos e retiram a liberdade
Quando dói tê-la a vida mais sorridente,
e não compactuá-la assim com um singelo abrigo.

Onde andará aquele moço contestador, amante do combate à desordem?
Meu amigo, aquele amigo da nossa poesia.

Para F.