sábado, 24 de julho de 2010

Impermanência


O barulho na mesa estava revelando-me um sono num ato autônomo que desprendia o pensamento do mundo. Perdurava o barulho. Um caos que se mistura ao que anda pairando no meu coração. Uns estalos de violão nas cordas com sétima lançaram-se com a ternura das palavras que somam poesia no ar, que pendurava tão simplória a lua, deserta e sempre nua. Um barulho! Estorvo barulho! E os estalos do violão com sétima. Agora em tom menor. E por efeito próprio de quem o embalava, respirava como um ser vivo a harmonia num som que entorna solidão e um ensejo constante que enfada, não mata. As letras são mistérios cortantes da alma expressas agora na claridade da música que a sujeita à poesia de recebê-la o ouvidor, que loucamente adormece com a dor. É herança que tenho visto e de costume presenciado. O barulho na mesa estava caótico. Os olhos surpresos e frágeis de tanta impaciência estavam também caóticos. Papai virou-se também impaciente – parece-se mesmo comigo – como quem estivesse sentindo nojo do deserto que são algumas pessoas. Meus pés já quentes, as mãos vazias e um choro engasgado. Uma saudade de você, e vocês... Um pergunta suplantava já quase meia - noite, no que estava ao encontro, no meu coração. Acho que eu é que sou um caos.

domingo, 18 de julho de 2010

É Fácil

Composição:
Arnaldo Baptista

Eu me amo
Como eu amo você
É fácil
É fácil

- Do Cd "Loki", uma das obras artísticas musicais brasileiras mais lindas. Algo que expressa a beleza que é a tristeza dentro do peito de um ser humano. Posso conceituar nestas palavras: Sensível e ao mesmo tempo frágil, embora sejam estes adjetivos que atribuo, relacionamentos diferentes. Música que toca a alma.

"Demasia q és, amor! Pareço uma criança que vive longe da infância. Todo mundo está indo embora. E eu sempre estou só. Eles sempre me deixam só, com o coração quebrado. Eles são mentirosos. Acho que mamãe vai trazer chocolates desta vez. Ela sempre traz..."

sábado, 17 de julho de 2010

Lascivo



Teu corpo esmorecido no meu ao passo de te sentir as mãos dilatarem e os pêlos dos teus braços invadirem-me as costas sem consentimento decisivo. Um intruso pintando os meus seios com dedos frios complacentes, que pareciam durar tanto quanto a imortalidade do colosso céu azul.
Teu corpo esmorecido no meu ao passo de te tomar os lábios como um último alimento que supriria os meus no ato de um longo desejo que mata, dilacera as vestes. Eis que o farto cheiro teu de pele consentia no abuso de desconcertar os sentidos, enquanto o interior de mim sorria do acaso, ditando um ato de palavras para te encobrir o rosto. Já inevitavelmente nu.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Rock and Roll


Conceituar-lhe o rock and roll está fora dos meus princípios. Mas posso dizer-lhes da tamanha importância que foi como ideologia na minha vida. E é ainda. Não há palavras, sem exagero - que pensem- que possam expressar o sentimento que se expande em mim sobre isto. Foi o princípio do meu amor pela música, da minha poesia, do caos que se espalha pela suas veias. Tudo o que há nele é viajante, sedutor, sensual, caótico, crítico, dissimulado, obscuro... Há tudo que queiras ver. É uma grande paixão que me difunde por tudo o que houve ou há. Fica. E que possamos dar vida longa ao rock and roll, aos seus eternos. Viva ao rock and roll, baby!



"A música rock veio mudar as tradicionais músicas dos homens de negócios para uma música mais livre e sem preconceitos. A música rock reflete um comportamento erótico, para alguns destrutivo, mas na minha opinião é
apenas um meio de desabar as estruturas[...]. A música rock trouxe uma nova concepção de som e música."

Cazuza


Trovador Solitário

Acorde
Só por hoje
Subvertendo mais uma vez teu silêncio de pássaro
Para os ouvidos do mundo
Acorde
Só por hoje
Mas não se demore à estupidez precisa deste lado
Que corrói a sede de seres mágicos
“Que de tanto acreditar em tudo o que achávamos tão certo,
teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais,
faríamos floresta no deserto...”
Acorde
Só por hoje
Com o grito teu de protesto exarcebado
Mais uma vez
Para a minha esperança da perfeição

Eterna Legião. Pedaços de letras que me invadem o ser.

Obrigada por esta ruptura minha, ó Deus. Obrigada pelo rock and roll!

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pois os dias em que precisares de mim sejam os dias mais verdadeiros. Pois sou isso. Sou doar-se, e nas tempestades um bicho que se esconde. Tenho medo, mas nunca hei de te negar nenhum frasco de luz que possa existir em minhas veias. Você, acima de tudo. Eu não valho nada. E eu nem sei por que se escondem dentro de mim. Deve ser por que me escondo dentro de vós.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Carta de Um Rei Com os Lábios Dormentes

Tu, ó Deus, que me concedeste a juventude que branda arde no soluço que não se solta de tanta dor que falo e a corto como quem decepa as estrelas ao meio. Assim que me ateiam. Assim que me desassossego. Assim que me vejo um tanto quanto velho.
E como as correntezas que se vão ao rio mais próximo de minha estadia, empurro-me nessa cobiça desde quando soube do frasco que sou quando transbordo sem fé. Desapareço. Firme vou-me por entre os estreitos braços de água. Que nunca foram, nunca serão meus.
Enquanto a mão horrenda dos homens despedaça meus olhos e cantam lamúrias aqui perto de mim, corro sem que nada faça eu contra seus fracassos. Calo-me, mesmo sem um consentimento que me faça acreditar. Sou asco. Por que sou eu assim? A verdade é que esse é o meu estrago. Enquanto a paixão que assopra delicadamente minhas veias seja com exatidão outro declínio de minha voz. Atormenta e cala. E passa. Ou mata.
Tu, ó Deus, que em minha mesa concedes o acúmulo dos bens mais preciosos que se possam ter em mãos, é um grande estar de acordo com o ar que sopra nuvens aos ares, onde o meu caminho apazigua-se em correr sobre elas. Onde eu me afogo de tanto amor nos lábios pálidos. Onde somos todos assim sem feição.

- Dor.