sábado, 24 de julho de 2010

Impermanência


O barulho na mesa estava revelando-me um sono num ato autônomo que desprendia o pensamento do mundo. Perdurava o barulho. Um caos que se mistura ao que anda pairando no meu coração. Uns estalos de violão nas cordas com sétima lançaram-se com a ternura das palavras que somam poesia no ar, que pendurava tão simplória a lua, deserta e sempre nua. Um barulho! Estorvo barulho! E os estalos do violão com sétima. Agora em tom menor. E por efeito próprio de quem o embalava, respirava como um ser vivo a harmonia num som que entorna solidão e um ensejo constante que enfada, não mata. As letras são mistérios cortantes da alma expressas agora na claridade da música que a sujeita à poesia de recebê-la o ouvidor, que loucamente adormece com a dor. É herança que tenho visto e de costume presenciado. O barulho na mesa estava caótico. Os olhos surpresos e frágeis de tanta impaciência estavam também caóticos. Papai virou-se também impaciente – parece-se mesmo comigo – como quem estivesse sentindo nojo do deserto que são algumas pessoas. Meus pés já quentes, as mãos vazias e um choro engasgado. Uma saudade de você, e vocês... Um pergunta suplantava já quase meia - noite, no que estava ao encontro, no meu coração. Acho que eu é que sou um caos.

2 comentários:

  1. Se você visse por uma fenda entreaberta o como é meu coração, e o caos que visse pudesse te conceber um sentimento, jamais o descreverias com palavras humanas. E eu também não saberia dizer com palavras humanas o que é capaz de consolar tal sentimento. Eu apenas te daria um abraço longo fraterno e olharia pra você como quem pudesse dizer tudo com um sorriso tímido.

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  2. O horto é realmente lindo.
    Seus textos de alguma me fazem lembrar de livros antigos que ja li, as palavras ficam ecoando em minha mente...
    Beijos Carol :*

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