quarta-feira, 7 de julho de 2010

Carta de Um Rei Com os Lábios Dormentes

Tu, ó Deus, que me concedeste a juventude que branda arde no soluço que não se solta de tanta dor que falo e a corto como quem decepa as estrelas ao meio. Assim que me ateiam. Assim que me desassossego. Assim que me vejo um tanto quanto velho.
E como as correntezas que se vão ao rio mais próximo de minha estadia, empurro-me nessa cobiça desde quando soube do frasco que sou quando transbordo sem fé. Desapareço. Firme vou-me por entre os estreitos braços de água. Que nunca foram, nunca serão meus.
Enquanto a mão horrenda dos homens despedaça meus olhos e cantam lamúrias aqui perto de mim, corro sem que nada faça eu contra seus fracassos. Calo-me, mesmo sem um consentimento que me faça acreditar. Sou asco. Por que sou eu assim? A verdade é que esse é o meu estrago. Enquanto a paixão que assopra delicadamente minhas veias seja com exatidão outro declínio de minha voz. Atormenta e cala. E passa. Ou mata.
Tu, ó Deus, que em minha mesa concedes o acúmulo dos bens mais preciosos que se possam ter em mãos, é um grande estar de acordo com o ar que sopra nuvens aos ares, onde o meu caminho apazigua-se em correr sobre elas. Onde eu me afogo de tanto amor nos lábios pálidos. Onde somos todos assim sem feição.

- Dor.

Um comentário:

  1. Carol, que coisa linda esse seu poema. Em meu entendimento fala perfeitamente sobre o que algumas pessoas nos fazem, "despedaça meus olhos e cantam lamúrias aqui perto de mim". Perfeito!
    Beijos Carolzinha :*

    ResponderExcluir