
O barulho na mesa estava revelando-me um sono num ato autônomo que desprendia o pensamento do mundo. Perdurava o barulho. Um caos que se mistura ao que anda pairando no meu coração. Uns estalos de violão nas cordas com sétima lançaram-se com a ternura das palavras que somam poesia no ar, que pendurava tão simplória a lua, deserta e sempre nua. Um barulho! Estorvo barulho! E os estalos do violão com sétima. Agora em tom menor. E por efeito próprio de quem o embalava, respirava como um ser vivo a harmonia num som que entorna solidão e um ensejo constante que enfada, não mata. As letras são mistérios cortantes da alma expressas agora na claridade da música que a sujeita à poesia de recebê-la o ouvidor, que loucamente adormece com a dor. É herança que tenho visto e de costume presenciado. O barulho na mesa estava caótico. Os olhos surpresos e frágeis de tanta impaciência estavam também caóticos. Papai virou-se também impaciente – parece-se mesmo comigo – como quem estivesse sentindo nojo do deserto que são algumas pessoas. Meus pés já quentes, as mãos vazias e um choro engasgado. Uma saudade de você, e vocês... Um pergunta suplantava já quase meia - noite, no que estava ao encontro, no meu coração. Acho que eu é que sou um caos.